ZOOTECNIA E BEM-ESTAR ANIMAL



Vi no: Zootecnia é para os fortes
Relato de uma Zootecnista!
Escrito por: Lília Thays Sonoda

“Ser graduando em Zootecnia ou ser um Zootecnista formado ainda não é uma tarefa das mais fáceis. Quando se é estudante, a grade curricular da maioria das universidades é relativamente pesada (o que é bom, mas durante a faculdade nós não entendemos muito o porquê), a falta de informação do público é grande, e quando se trata de vagas em concursos públicos, nem se fala, as oportunidades são restritas, mas aparentemente as coisas tem mudado de uns anos pra cá, ainda bem!

Eu entrei na faculdade em 2003, quando a criação de gado passava por um dos seus melhores momentos, e no primeiro dia de “aula” eu disse abertamente aos meus veteranos que queria trabalhar com suínos. Pronto, me transformei no ponto de zuação geral. Nos dois primeiros anos eu sobrevivi ao curso, claro que com sequelas, como uma reprovação daqui, uma DP de lá, e assim foi, coisas normais que acontecem na vida de um graduando em zootecnia! 
No início do terceiro ano, eu vi no plano de aula mais uma daquelas disciplinas de “Zootecnia” (agora em sua 3a edição) e pensei, “Ai meu Deus, lá vem mais uma daquelas aulas pra encher linguiça!” (Nesse momento da minha vida, eu ainda pensava que zootecnia era quase que unicamente baseada em produtividade e em como aumentar o lucro do produtor rural, A QUALQUER CUSTO!). Muito bem, as aulas começaram, veio o professor falar do tal de “Bem-Estar Animal” (o que até então era uma incógnita pra mim), e na verdade, toda aquele papo de senciência não fez muito sentido a princípio. O semestre foi passando, e eu entendi que os animais são seres que realmente pensam e tem sentimentos (os mesmos que nós sentimos), e a cada semana, fiquei mais e mais intrigada pra saber como é que aquela coisa toda ia terminar. Para minha surpresa, eu soube que a história estava longe de ter um fim. Este é um processo complicado, longo e em andamento, por isso resolvi fazer parte dele...
Como todo graduando, tive que fazer o estágio curricular obrigatório. Eu optei por focar em bem-estar animal e acabei conseguindo um estágio na Faculdade de Engenharia agrícola da Unicamp. No começo eu achei estranho sair da minha zona de conforto zootécnica pra entrar no meio de toda aquela gente tão “tecnológica”. Mas hoje, pensando bem, acho que foi a coincidência mais feliz que me aconteceu. No grupo da professora Daniella Moura, descobri que ser Zootecnista é ser diferente. Foi nessa época que percebi, pela primeira vez, como foi ótimo ter escolhido a zootecnia como profissão. A maioria dos alunos lá eram excelentes em engenharia, mas quando se tratava da parte animal, eles precisavam de nós (eu, uma veterinária e mais uma Zootecnista) pra dar uma força!
Como todos vocês devem saber, ou pelo menos deveriam, é que a zootecnia é muito completa. Nós estudamos uma gama grande de assuntos relacionados aos sistemas de produção de vários tipos de animais (domésticos, silvestres e exóticos), e temos que tirar vantagem disso! O bem-estar animal, porém, é diferente para cada espécie. Eu diria que o primeiro passo para quem se interessa em trabalhar com o bem-estar animal é: definir a espécie que mais lhe agrada.
Eu, particularmente, não acredito que uma pessoa consiga ser igualmente bom, ao mesmo tempo, em bem-estar de espécies bem diferentes (ex.: aves, suínos e gado de corte), e isso é compreensível, todos temos preferências! Em contrapartida, acho que é possível cobrir vários aspectos de uma mesma espécie, e é sobre isso que eu gostaria de dar alguns exemplos.
Eu tenho mais afinidade com suinocultura, mas o conhecimento básico sobre esses tópicos pode ser aplicado para as diferentes criações.
O Zootecnista pode trabalhar ativamente para a melhora das condições de bem-estar ligadas a aspectos como:
·        As construções rurais: -Instalações – Ex.: Design, dimensionamento e materiais alternativos para as a construção dos galpões visando o aumento do conforto aos animais e redução de custos;
o   Qualidade de água;
o   Qualidade da cama – Ex.: Umidade, pH, produção de gases;
o   Qualidade de ar – Ex.: Concentração de gases como amônia e CO2, poeira, odores;
o   Ambiente térmico ideal para as diferentes categorias, ex.: leitões e matrizes suínas; entre outros...
·        O animal: 
o   Estudos dos comportamentos (etologia)
o   Enriquecimento ambiental das instalações e/ou cognitivo com
a implementação de objetos que distraiam e ocupem os animais;
·        Otimização das técnicas de manejo e melhoria da mão-de-obra, como por exemplo, em unidades produtoras de leitões. Automação dos sistemas de criação:
o   Sistemas de monitoramento ambiental utilizando sensores;
o   Sistemas de monitoramento comportamental utilizando câmeras;
o   Sistema de alimentação e distribuição de água;
o   Design e teste de equipamentos para diferentes finalidades.
·        É importante sempre estar atento à categoria animal (espécie, idade, peso, estado fisiológico, etc.)
Essas informações não são apenas para quem quer ser pesquisador, muitas empresas tem seu próprio departamento de desenvolvimento e inovação do bem-estar animal!
No Brasil, algumas pessoas ainda não veem a atuação do Zootecnista em outras áreas com bons olhos, mas isso tem mudado bastante nos últimos anos, e pra melhor!
Em outros países, como os Estados Unidos e na Europa em geral, a cooperação entre profissionais de diferentes áreas de concentração é considerada essencial para a realização de um trabalho bom e completo que contemple o máximo possível de aspectos relacionados ao bem-estar dos animais.
Tendo formação em zootecnia e tendo feito o mestrado na engenharia agrícola, tive a oportunidade de ampliar meu campo de trabalho e minha experiência profissional e pessoal de uma maneira muito dinâmica.
Hoje em dia eu faço doutorado e trabalho em um projeto de Zootecnia de precisão que tem como objetivo criar soluções baseadas em tecnologias que podem ser aplicadas no dia-a-dia do campo. O projeto em que trabalho se chama BioBusiness, e sou uma das responsáveis pelo desenvolvimento de um sistema de monitoramento automático de agressividade em suínos, sendo minha função realizar os experimentos, testes e observações a nível de campo.
Para finalizar, gostaria de dar algumas dicas pra quem ainda está na graduação, talvez vocês já saibam, de qualquer maneira é bom lembrar:
·        Estágio de campo é muito importante, limpando baia e batendo ração em que se coloca em prática o que aprendeu como Zootecnista! 
·        Aprender uma língua estrangeira ajuda! Inglês é bom, mas se você não gosta, aprenda outra, como (espanhol, francês, alemão, etc.)!
·        Respeite seus professores, são eles que te dão as ferramentas para se tornar um bom profissional.
·        Respeite o produtor rural SEMPRE, no final das contas, é ele quem paga nosso salário!
·        Respeite seus colegas (veterinários, agrônomos, zootecnistas e também os engenheiros) eles sabem de muitas coisas das quais você não faz nem ideia!
·        Respeite a você mesmo! Se você não quer castrar ou até mesmo visitar um abatedouro, não o faça (você não é obrigado!!!), mas esteja ciente de que você não pode opinar (como profissional) ou ter opinião formada (como consumidor) sobre algo que nunca presenciou ou não sabe realmente como funciona.
·        Faça com dedicação, tenha orgulho e seja apaixonado pelo seu trabalho, não importa o que seja! 
·        AVENTURE-SE, faça diferente e faça a diferença!

Seja correto, honesto e responsável e não se esqueça de que um dia você terá um juramento para honrar!”

Por: Lília Sonoda, Graduada em Zootecnia pela UEL, atualmente faz doutorado na Universidade de Hannover-Alemanha

Zootecnista por formação, de alma e coração!
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Autor: Unknown

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